Mulheres em Movimentos por Reforma Agrária: Protagonismo, Resistência e Transformação no Brasil

Mulheres em movimentos por reforma agrária

No Brasil, a luta pela reforma agrária é marcada por disputas intensas por território, justiça social e soberania alimentar. Dentro desse cenário, há uma presença fundamental que, durante anos, foi invisibilizada: a das mulheres. Elas não apenas participam dos movimentos por reforma agrária — elas os sustentam, organizam e reinventam.

Neste artigo, vamos refletir sobre o protagonismo das mulheres nos movimentos sociais do campo, especialmente no contexto brasileiro, destacando suas contribuições, desafios e a importância de uma reforma agrária com perspectiva de gênero.

O que é a reforma agrária e por que ela importa?

A reforma agrária é a redistribuição de terras improdutivas para promover justiça social, garantir o acesso à terra para pequenos agricultores e combater desigualdades históricas no campo. No Brasil, onde a concentração fundiária é uma das maiores do mundo, esse debate é urgente e necessário.

Movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Via Campesina lutam há décadas por esse direito. Mas muitas vezes, a narrativa dominante ignora quem está organizando as marchas, coordenando os assentamentos e cultivando o solo com propósito: as mulheres.

O protagonismo das mulheres no campo

Historicamente relegadas ao papel de auxiliares ou cuidadoras, as mulheres camponesas têm rompido essas barreiras. Hoje, elas ocupam posições de liderança, promovem educação política dentro dos assentamentos e articulam redes de apoio que fortalecem a luta pela terra.

Segundo dados da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), cerca de 45% da força de trabalho rural no Brasil é composta por mulheres. No entanto, apenas uma parcela ínfima dessas mulheres possui a titularidade da terra.

Esse desequilíbrio reforça a importância da luta por reforma agrária feminista, uma pauta que reconhece não apenas o direito à terra, mas também à autonomia, à dignidade e à vida livre de violências.

Mulheres do MST: organização e resistência

O MST é hoje um dos maiores movimentos sociais da América Latina, e nele, as mulheres desempenham papéis fundamentais. A Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, realizada todos os anos em março, é um exemplo emblemático dessa atuação.

Durante essa jornada, milhares de mulheres realizam ocupações, marchas e ações simbólicas para denunciar a violência no campo, o agronegócio predatório e exigir políticas públicas voltadas às mulheres rurais.

Essas ações não são apenas manifestações políticas — são atos de resistência que desafiam a lógica patriarcal do campo e da cidade.

Mulheres em movimentos por reforma agrária

Reforma agrária com perspectiva de gênero: por que é essencial?

Uma reforma agrária que ignore as desigualdades de gênero corre o risco de perpetuar as mesmas opressões que busca combater. Por isso, é essencial reconhecer:

  • O direito das mulheres à titularidade da terra;
  • A importância de políticas públicas específicas, como creches nos assentamentos e atendimento de saúde voltado para mulheres rurais;
  • A valorização do trabalho doméstico e produtivo feminino;
  • O combate à violência doméstica e estrutural no campo.

Iniciativas como a Marcha das Margaridas, que reúne mulheres do campo, da floresta e das águas, são fundamentais para pautar essas questões em nível nacional.

Desafios e conquistas: um caminho em construção

Ainda há muitos obstáculos. A violência contra mulheres no campo é alarmante, e o machismo estrutural dentro e fora dos movimentos sociais ainda impõe silenciamentos. Mas também há conquistas reais: mais mulheres alfabetizadas, formadas em agroecologia, participando de decisões políticas e ocupando cargos de liderança.

Além disso, a agroecologia — prática que respeita os saberes tradicionais e valoriza a sustentabilidade — tem nas mulheres suas principais defensoras. É por meio dela que muitas famílias assentadas garantem renda, alimentação saudável e autonomia.

Conclusão: sem feminismo, não há reforma agrária

A luta por terra no Brasil não pode ser pensada sem o protagonismo das mulheres. Elas não são apenas parte da resistência — são também sementes de um novo modelo de sociedade, onde a justiça social anda de mãos dadas com a igualdade de gênero.

Reconhecer e valorizar a atuação feminina nos movimentos por reforma agrária é dar um passo essencial rumo a um Brasil mais justo, plural e democrático.

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