Feminismo na Arquitetura: Um Olhar Necessário Sobre Gênero e Espaço

feminismo na arquitetura

A arquitetura, à primeira vista, pode parecer neutra. Afinal, prédios, praças e casas são feitos para todos, certo? Na prática, porém, as escolhas arquitetônicas – desde quem projeta até como os espaços são usados – carregam camadas profundas de desigualdade. É aqui que o feminismo na arquitetura surge como um movimento essencial para repensar não apenas quem constrói, mas para quem se constrói.

Por que falar de feminismo na arquitetura?

Historicamente, a arquitetura foi dominada por homens. As mulheres eram excluídas das grandes escolas de arquitetura até o século XX e, mesmo depois de entrarem no mercado, muitas vezes foram silenciadas, invisibilizadas ou relegadas a papéis secundários.

Falar de feminismo na arquitetura é reconhecer essas barreiras, dar visibilidade às mulheres arquitetas e repensar o urbanismo sob uma perspectiva mais inclusiva, diversa e equitativa.

A presença feminina na história da arquitetura

Apesar dos obstáculos, mulheres incríveis deixaram sua marca na história da arquitetura – embora, muitas vezes, seus nomes tenham sido esquecidos ou ofuscados por colegas homens.

Exemplos notáveis:

  • Zaha Hadid: Primeira mulher a ganhar o Pritzker Prize (o “Nobel da arquitetura”), em 2004. Seus projetos futuristas romperam padrões estéticos e funcionais.
  • Lina Bo Bardi: Italiana radicada no Brasil, é responsável por obras icônicas como o SESC Pompeia, em São Paulo, onde propôs espaços mais democráticos e acolhedores.
  • Norma Merrick Sklarek: Primeira mulher negra a se tornar arquiteta licenciada nos Estados Unidos, coautora de grandes obras como o Terminal 1 do Aeroporto de Los Angeles.

Essas mulheres abriram portas – mas muitas outras ainda enfrentam dificuldades em ter suas ideias respeitadas ou alcançar cargos de liderança.

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Onde está o machismo na arquitetura?

O machismo se manifesta de várias formas na arquitetura:

  • Assédio e desrespeito em obras e escritórios
  • Desigualdade salarial entre arquitetos e arquitetas
  • Menos oportunidades de liderança e reconhecimento profissional
  • Invisibilização de contribuições femininas em projetos coletivos

Além disso, o urbanismo tradicional muitas vezes ignora as necessidades específicas das mulheres, como mobilidade segura, infraestrutura para cuidado (creches, banheiros públicos adequados), e espaços públicos acessíveis para todas as idades e corpos.

O espaço urbano pensado sob uma perspectiva feminista

Um dos pilares do feminismo na arquitetura é pensar a cidade sob diferentes olhares. Isso significa considerar as experiências de mulheres, mães, idosas, pessoas com deficiência, mulheres negras, periféricas, entre outras.

Exemplos de soluções feministas no urbanismo:

  • Iluminação adequada e mais visibilidade em pontos de transporte público para aumentar a segurança;
  • Espaços de convivência com acessibilidade real para todas as idades;
  • Equipamentos urbanos voltados ao cuidado, como bancos de amamentação, trocadores e creches próximas ao trabalho;
  • Participação ativa das mulheres nos processos de planejamento urbano.

O papel das novas gerações de arquitetas

Felizmente, novas gerações de mulheres arquitetas estão rompendo com o modelo tradicional e propondo abordagens mais humanas e coletivas. Grupos feministas dentro das faculdades e coletivos de arquitetas têm denunciado desigualdades, promovido eventos, publicado pesquisas e ampliado a discussão sobre gênero no ambiente construído.

Um exemplo importante é o trabalho da Coletiva Arquitetas Invisíveis, que mapeia mulheres arquitetas apagadas da história e propõe reflexões sobre equidade na profissão. Seu conteúdo tem servido como ferramenta educacional em faculdades e redes sociais.

Feminismo na arquitetura é sobre todos

Adotar uma perspectiva feminista na arquitetura não é apenas uma causa das mulheres: é um chamado à inclusão de todos os grupos historicamente marginalizados. É sobre repensar os espaços para que acolham e representem a diversidade da sociedade.

Espaços não são neutros. Eles podem oprimir ou libertar. E, nesse sentido, o feminismo na arquitetura nos convida a construir cidades mais justas, acessíveis, seguras e humanas para todas as pessoas.

Conclusão: Construir com consciência

Falar de feminismo na arquitetura é, em última instância, falar de justiça social. É abrir os olhos para como os espaços que habitamos refletem (e perpetuam) desigualdades – e como podemos mudá-los.

FAQ

O que é feminismo na arquitetura?

O feminismo na arquitetura é uma abordagem crítica que busca identificar e superar as desigualdades de gênero presentes no campo da arquitetura e no ambiente construído. Isso inclui a valorização das contribuições de arquitetas, a promoção de espaços urbanos mais inclusivos e a consideração das necessidades de diferentes grupos sociais no planejamento e design arquitetônico.

Por que é importante discutir gênero na arquitetura?

Discutir gênero na arquitetura é fundamental porque os espaços que habitamos influenciam diretamente nossas experiências diárias. Historicamente, muitas cidades e edificações foram projetadas sem considerar as necessidades específicas de mulheres e outros grupos marginalizados, resultando em ambientes que podem ser excludentes ou inseguros. Ao incorporar perspectivas de gênero, é possível criar espaços mais equitativos e acessíveis para todos.​

Quais são os principais desafios enfrentados por mulheres na arquitetura?

As mulheres na arquitetura enfrentam diversos desafios, incluindo:​
Sub-representação em cargos de liderança: Apesar de muitas mulheres se formarem em arquitetura, poucas alcançam posições de destaque em escritórios e projetos de grande escala.​
• Desigualdade salarial: Estudos indicam que mulheres arquitetas frequentemente recebem salários inferiores aos de seus colegas homens, mesmo com qualificações semelhantes.​
• Reconhecimento profissional: Contribuições de arquitetas muitas vezes são negligenciadas ou atribuídas a colegas masculinos.​
Ambientes de trabalho hostis: Assédio e discriminação ainda são problemas recorrentes em muitos escritórios e canteiros de obras.

Como o feminismo influencia o design urbano?

O feminismo influencia o design urbano ao promover a criação de espaços que atendam às necessidades de todos os usuários, considerando aspectos como segurança, acessibilidade e funcionalidade. Isso pode incluir a implementação de iluminação adequada em áreas públicas, a criação de espaços de convivência que favoreçam a interação social e o planejamento de infraestruturas que considerem as rotinas diárias de mulheres, como rotas seguras para deslocamento e acesso a serviços essenciais.

Existem exemplos de projetos arquitetônicos com abordagem feminista?

Sim, diversos projetos incorporam princípios feministas em seu design. Por exemplo, o projeto “Arquitetura na Periferia”, idealizado pela arquiteta Carina Guedes, capacita mulheres de comunidades de baixa renda a planejarem e construírem suas próprias casas, promovendo autonomia e empoderamento. Outro exemplo é o trabalho da arquiteta paquistanesa Yasmeen Lari, que desenvolve soluções habitacionais sustentáveis e de baixo custo para populações vulneráveis, com foco especial nas necessidades das mulheres.

Como posso aprender mais sobre feminismo na arquitetura?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre feminismo na arquitetura, você pode:​
Participar de eventos e exposições: Exposições como “Arquitetura e Feminismo: Sem Princípio Nem Fim” apresentam trabalhos de arquitetas e coletivos que exploram a interseção entre gênero e espaço urbano.​
• Ler publicações especializadas: Livros e artigos acadêmicos abordam teorias e práticas relacionadas ao feminismo na arquitetura.​
• Engajar-se com coletivos e organizações: Grupos como o “Coletivo Arquitetas Invisíveis” promovem debates e compartilham recursos sobre o tema.​
• Acompanhar cursos e workshops: Instituições de ensino e organizações profissionais frequentemente oferecem cursos que abordam questões de gênero na arquitetura e no urbanismo.


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